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A argamassa do presente para o passado

  • on 24 de julho de 2012
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Esqueça-se a imagem da argamassa misturada a olho junto à obra, entre sacos de cimento, pazadas de areia e baldes de água. A gama de argamassas desenvolvida por três estudantes do Departamento de Engenharia Civil (DEC) da Universidade de Aveiro (UA) em nada tem a ver com essa imagem. Em primeiro lugar, é a única pensada especificamente para reabilitação de edifícios antigos em Portugal.

Depois, e porque o material de construção não era todo igual, os jovens cientistas têm outra novidade: à argamassa são adicionados aditivos que têm em conta as propriedades dos materiais com os quais vai intervir. Assim, cada empreiteiro usa um produto personalizado que é durável, resistente e compatível com qualquer tipo de construção antiga. Para além disso, o produto dos estudantes de mestrado e de pós-doutoramento do DEC é facilmente removível, o que o torna ideal para intervenções em monumentos.

Esqueça-se então, e mais uma vez, as argamassas à base de cimentos quando a obra tem por finalidade reabilitar edifícios feitos com materiais de construção utilizados há mais de 50 anos. «As argamassas de cimento têm falta de reversibilidade e com o passar do tempo, devido aos seus constituintes, são a causa da alteração e degradação dos próprios imóveis», explica David Monteiro que, juntamente com os colegas Luís Mariz e Diogo Pires, aperfeiçoaram uma gama de argamassas a pensar no passado.

«Ao recriarmos tecnologias tradicionais que caíram em desuso com a proliferação das argamassas de cimento, o nosso produto não só é compatível com esses materiais como também, através da introdução de aditivos na dose certa, é durável e resistente», explica Luís Mariz. «A especificidade desta argamassa é ser compatível, em termos físico-mecânicos com as alvenarias tradicionais, inversamente às tecnologias que recorrem ao cimento comum, pouco compatível com os materiais de construção usados antigamente», acrescenta Diogo Pires. Outra vantagem da argamassa é de ser de fácil utilização «porque só será necessário adicionar água nas quantidades adequadas».

25 por cento do imobiliário tem mais de 50 anos

A ideia dos estudantes da UA surgiu quando foram confrontados com a certeza de que mais de 720 mil fogos do parque imobiliário português tem mais de 70 anos e que «precisa de ser reabilitado com urgência». Assim, e face à atual conjuntura económica que imprime estagnação à construção de novos edifícios, «a reabilitação apresenta uma boa perspetiva de crescimento», dizem os estudantes.

A lista dos ingredientes com os quais confecionaram a argamassa amiga do antigo está fechada a sete chaves. Os estudantes avançam no terreno com a criação de uma empresa que possa comercializar a invenção que promete revolucionar o setor da construção civil. A argamassa da UA, entretanto, já foi utilizada pela Câmara Municipal de Ovar na reabilitação de nove edifícios antigos revestidos com azulejos históricos.

«Na UA, já há muitos anos que se faz investigação nesta área. Com a junção destes três estudantes surgiu a ideia de colocarmos o resultado destas investigações no mercado», diz a Prof. Ana Velosa do DEC que, juntamente com o Prof. Fernando Rocha, coordenador da GEOBIOTEC – unidade de investigação da UA para as áreas da Geobiociências, Geotecnologias e Geo-engenharias, orienta o projeto dos três investigadores.

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